C'um camandro!
29 janeiro, 2010
  Ensaio Sobre o Elifoot II
Recentemente, numa das famosas (e agradáveis) trocas de insultos no Youtube, um jovem utilizador que discordava firmemente da minha opinião ofereceu-me uma viagem para duas pessoas para o "karalho". Tratou-se de um nobre convite do qual muitas ilações poderiam ser retiradas, tais como a evidente falta de educação do jovem ou até o seu baixo índice de alfabetização. Todavia - e por muito bizarro que possa aparentar - não me apercebi de nada disto na altura. Na verdade, quer-me parecer que, ao ser enviado para o "karalho", o lote de possíveis reacções a adoptar por um cidadão comum é até bastante variado. O que já não me parece possível é que, nesse lote de reacções, esteja incluído o impulso psicológico de, partindo da palavra (ou lá como que se queira considerar) "karalho", chegar à palavra "Karoglan". Seja como for, caros leitores, "Karoglan" foi a primeira coisa que me ocorreu ao ler o insulto que me foi dirigido, e com ele relampejaram na minha mente as memórias daquele brilhante jogo de gestão desportiva a que se dá o nome de Elifoot. É sobre ele que gostaria que nos debatêssemos um pouco.



Ora, Elifoot. O que dizer deste jogo, pai de todos os "managers", no qual completa-se uma temporada em 20 minutos e em que os jogadores têm um elixir secreto para a vida eterna? Sem mais demoras, façamos uma análise a este estupendo jogo:


I - As Incoerências:


Em primeiro lugar, há um aspecto que deve desde já ser esclarecido: a versão mais indicada para jogadores do sexo masculino é, sem dúvida, o Elifoot II. O Elifoot 98 é de facto um bom jogo se o jogador em questão tiver algumas dúvidas acerca das suas opções sexuais; o Elifoot 2002 já começa a ser desaconselhével a indivíduos que preferem permanecer com o seu respectivo ânus em estado imaculado; e os Elifoots posteriores são mesmo só para panisgas. Ora, assumindo que quem lê este blog é um macho convicto (só alguém com uma coragem digna de um macho lusitano entraria nesta espelunca), o objecto deste ensaio é única e exclusivamente o Elifoot II. «Ah, mas eu não gostava lá muito do II!». Azar o teu. Fizesses-te um homenzinho.

E outra coisa que, mesmo no âmbito do Elifoot II, é desígnio de um profundo desejo de amor carnal com outros homens, são as actualizações. No dia em que procurei na Internet pelo nosso querido Elifoot II, o melhor que encontrei foi uma versão actualizada, relativa à época 2008-09. Meus amigos, que porra é esta?! Yebda?! Hulk?! Meyong?! Onde diabos está o Karoglan?! O que é feito do Formoso?! Aonde foi parar o Febras, o Bolinhas, o Vinicius e o Bruno Caires?! Escândalo! Por ser demasiado fácil de manejar, o editor é sem dúvida o ponto mais fraco do Elifoot II, posto que dá azo a actualizações da base de dados.
Em suma: actualizações são um atentado à magia do jogo. Se desejardes brincar com o editor, faze no máximo algo do género:



PS: Será importante referir que o avançado Cebola Mol terminou o campeonato com 18 golos, mais 2 que Paco Bandeira e Jenna Jameson.


b) O efeito "Quique Flores":


Outro fenómeno bizarro do jogo é o facto de os jogadores "desaprenderem" com o passar do tempo. Reparem nas seguintes duas imagens e atentem nos recém-contratados atletas Manu e Hélder Postiga:





Ao ver as imagens, poderá ocorrer a alguns que há uma incoerência no facto do Postiga ter golos na sua conta pessoal. Mas aquilo para que quero alertar não é assim tão grave quanto isso. Pode ser incoerente, mas não ridículo. No que quero que reparem é no enorme decréscimo de força: findas apenas duas épocas e meia, a condição dos atletas (outrora tão pujantes) não podia ser mais miserável. Como é possível que tal aconteça? Poder-se-á dizer que o jogo consegue adaptar-se ele próprio à realidade, pois um Postiga com força 44, enfim, só no mais húmido dos sonhos. Mas eu cá tenho outra teoria: o sistema de jogo está programado para que se verifiquem "efeitos Quique Flores", ou por outras palavras, atletas que joguem bem vão desaprendendo de semana para semana até a miséria se tornar insustentável. Provavelmente, quando um jogador é transferido para uma equipa de divisão inferior, passa a ter um treino específico que consiste em jogar matrecos e dominó, ir ao cinema ou qualquer outra coisa, tudo o que não seja relacionado com futebol.

c) Actos de hooliganismo:

Servem as mesmas imagens para reportar os actos de hooliganismo que ocorrem nos jogos. Aliás, "hooliganismo" será mais um eufemismo. Observem o canto superior direito de ambas as imagens. Inicialmente, o Sp. Covilhã possuía um estádio com a capacidade de albergar 30000 adeptos; duas épocas mais tarde, o número de lugares no estádio passou para metade. De facto, no Elifoot II é comum numa semana um estádio ter X lugares e, na semana a seguir, ter X - 5000 lugares, tornando-se agora claro que, ao invés de "hooliganismo", será decerto mais adequado referirmo-nos a "terrorismo". Os confrontos no estádio chegam a ser tão violentos que, por vezes, acontece uma bancada de 5000 lugares ir abaixo. É por isso que, por via das dúvidas, é mais seguro ser destacado para o Afeganistão ou para os Balcãs. Mas para o estádio do Sp. Covilhã, Deus me livre!

Assim sendo, não restam dúvidas quanto às incoerências presentes neste jogo. Mas vistas bem as coisas, coerência é uma coisa sem graça. Assim, se eu puder assitir a um filme onde um indivíduo musculado e com o cabelo espetado anda à batada com outros servindo-se de kamehame's, ataques voadores e bolas de fogo, não vou obviamente assistir a uma coisa normalíssima quanto o Ultimate Fighting. É por isso que o Elifoot é um jogo tão espectacular. Ele excede os horizontes da realidade, agride categoricamente a vulgaridade e alimenta-nos os sonhos. E é por isso que coerência e Elifoot II são termos irreconciliáveis: as únicas coerências passíveis de ser encontradas no jogo não são meras coerências, mas sim coerências em excesso.

II - As Coerências Em Excesso:

a) Correspondência com a realidade ideal:

A imagem que se segue revela-nos não propriamente a realidade, mas sim o que seria real num mundo que obedecesse às leis que o regem:


Como podem ver, o motor de jogo prevê desde logo um adequado desfecho do processo Apito Dourado. Louvável sensatez! Ainda assim alguém poderá alegar que nem tudo são coerências, algo com o qual eu discordo: o Benfica e o Vitória de Setúbal deram, obviamente, a volta aos seus respectivos jogos. Também podem queixar-se do facto do Belenenses estar na Primeira Divisão, mas isso será subestimar a inteligência artifical do Elifoot II: o sistema já está preparado para que a Secretaria salve sempre o clube de uma descida certa.

b) Os Despedimentos:

Deixei o melhor para o fim, claro está. Num mundo real, ser despedido costuma ser interpretado como um acontecimento catastrófico: todos evitam tal situação a todo o custo. No Elifoot II, porém, o caso muda de figura. Vou até mais longe: ser despedido é a essência do jogo. É que ganhar é uma coisa banal: todos nós já ganhámos alguma coisa (nem que seja a corrida rumo ao óvulo). Mas ser despedido com classe, muito poucos conseguem. É por isso que o meu maior objectivo no Elifoot II era sempre ser despedido, pois só assim ser-me-ia dirigida uma formalíssima carta de despedimento tal como:



É que ser despedido é desagradável; mas ser despedido com classe é sublime!

III - Conclusão:

Este é daqueles ensaios que nem deviam sequer ter conclusão, posto que ela é por demais evidente: quem não jogou Elifoot merece ser brutalmente empalado por dois nigerianos. A mensagem que deixo ao leitor é a seguinte: se jogaste Elifoot II pelo menos uma vez na vida, parabéns, és do catano!; se nunca o fizeste, nós damos-te uma oportunidade de fazê-lo, bastando para tal que faças download. Mas se preferires ignorar o nosso alerta, é bom que te prepares. Os nigerianos aleijam, segundo consta.

 
Comments:
Excelente analise!
Espero que os 4 anos de férias tenham sido retemperadores, venham de lá mais artigos com esta classe do Karoglan!
 
Boas!
Antes de mais, uma analise excelente sobre o Elifoot. Ri-me bastante. Parabéns! \o/
Uma pergunta: Será que pudias fazer o upload do jogo again? Ao tempo que andei à procura e nada.

Cumprimentos,
Jaden
 
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